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terça-feira, 5 de maio de 2015

Câmara "mais conservadora" pode facilitar derrubada do Estatuto do Desarmamento

Deputado do PMDB de Santa Catarina que acha que "bandido bom é bandido morto" tem projeto apresentado há dois anos para diminuir a restrição à compra de armas de fogo. Sua proposta poderá agora entrar em votação






"A Câmara mais conservadora desde 1964" pode facilitar a derrubada do Estatuto do Desarmamento, proposta que foi alvo de referendo em 2005 e restringiu a compra de armas de fogo no Brasil. Esta é a avaliação do deputado Rogério Peninha Mendonça (PMDB-SC), que é também autor da frase acima, sobre o perfil do atua Parlamento. Há dois anos, Peninha apresentou um projeto que trata do tema. O projeto já foi discutido em uma comissão especial da Casa, e a expectativa do deputado é que ele seja aprovado até o fim do ano no plenário, para depois seguir ao Senado.

Como noticiou o Fato Online, na atual legislatura, a articulação entre as bancadas da bala (representantes ligados a forças policiais e financiados pela indústria de armamentos), evangélica e ruralista ganhou uma unidade sob o comando de Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Com o peemedebista na presidência da Câmara, temas mais identificados com setores conservadores têm conseguido espaço na pauta das comissões e do plenário.
Argumento na Bíblia
Na sua página no Facebook, Peninha não esconde sua posição sobre temas em discussão hoje pela "bancada BBB", termo cunhado pela vice-líder do PT, Erika Kokay (DF), sobre os deputados, segundo ela,  "boi, bala e Bíblia". Em uma das imagens, publicadas em 20 de abril, uma pistola está em cima de uma Bíblia. E é na própria Bíblia que Peninha encontra argumentos para defender seu projeto e a ideia de que o cidadão deve ter o direito de usar de violência para se proteger de ladrões. Aparece uma citação do versículo dois do capítulo 22 do Êxodo: "Se o ladrão for achado roubando e for morto, o que o feriu não será culpado de sangue". O capítulo 22 do Êxodo é uma espécie de Código Penal na Bíblia. O versículo um, por exemplo, trata de roubo de bois e ovelhas: "Se alguém furtar boi ou ovelha, e o degolar ou vender, por um boi pagará cinco bois, e pela ovelha quatro ovelhas", diz ele.

Na imagem do Facebook, além da frase da Bíblia, acrescenta-se uma interpretação pessoal sobre ela: "Em outras palavras: bandido bom é bandido morto". Questionado sobre a imagem pelo Fato Online, o peemedebista disse que as postagens no Facebook são feitas ou por ele ou por seus assessores, e refletem seu pensamento em todas as vezes. "95% das pessoas que frequentam a minha página aprovam as minhas ideias", afirmou.

Arma para se defender

A revogação do Estatuto do Desarmamento é dos assuntos discutidos e articulados pela bancada BBB. Peninha não gosta do apelido pejorativo, preferindo ser descrito como ligado à bancada da bala. Natural de Nova Trento (SC), o deputado vem de uma região onde os clubes de tiro fazem parte do dia-a-dia. Assim como a posse de espingardas por agricultores tanto para proteção como para caça. Além disso, ele está entre aqueles que acredita que a violência não vem das armas compradas legalmente, mas sim daquelas que entraram ilegalmente no Brasil. 

"O cidadão precisa ter uma arma para se defender", afirma o peemedebista. No projeto, ele prevê que cada dono de arma possa comprar até 50 munições por mês - hoje este é o número máximo que se pode comprar por ano. Ele também propõe mudar o estatuto para que a quantidade de armamento em casa passe dos atuais seis para nove. Apesar de desejar a aprovação de seu projeto na íntegra, ele defende que haja diálogo entre setores contrários à revogação do estatuto para o texto ficar mais próximo do consenso.

No fim do ano passado, o projeto quase foi votado na comissão especial. Porém, uma manobra feita por deputados de PT, PCdoB e Psol conseguiu evitar a apreciação. Com o fim da legislatura, a tramitação foi reiniciada. Houve troca de relatores: saiu Cláudio Cajado (DEM-BA) e entrou Laudívio Carvalho (PMDB-MG). O peemedebista pretende, no primeiro semestre, fazer audiências públicas sobre o tema nos estados, deixando a segunda parte do ano para apresentar o relatório.

Para Peninha, a votação em plenário não passa de dezembro. O motivo é o citado no início do texto: sua avaliação de que este é o Congresso mais conservador desde o golpe militar de 1964. O comentário do peemedebista é corroborado pela "Radiografia do Novo Congresso", trabalho elaborado pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap). Segundo o Diap, o novo Congresso é conservador socialmente, atrasado do ponto de vista dos direitos humanos e temerário em questões ambientais.

"O Brasil viu que não estava dando certo o outro modelo", disse o deputado, em referência a um Congresso com deputados de perfil mais de esquerda. Ele lembra que os parlamentares mais votados em cinco estados são policiais, como Alberto Fraga (DEM-DF), Delegado Valdir (PSDB-GO) e Delegado Éder Mauro (PSD-PA). "É uma mudança ideológica da população", afirmou.

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